18 Discurso indireto e concordância de tempo |
Roubaram-lhe a carteira.
a presença do orador é o ponto de referência. O presente deste orador não é necessariamente o presente da pessoa que lê / ouve esta frase, porque também pode aparecer por exemplo num jornal e neste caso há uma diferença entre o presente da pessoa que a conta e o da pessoa que a lê. A situação muda completamente a partir do momento em que os fatos são contados como se estivessem presentes na mente de alguém:
Ele pensou que a carteira dele tinha sido roubada.
Neste caso, tem de ficar claro se os acontecimentos ocorreram antes, ao mesmo tempo ou depois de se terem apresentado na mente de alguém.
antes: Ele pensou que tinham roubado a sua carteira.
ao mesmo tempo: Ele pensou que tinham roubado a sua carteira.
depois: Ele pensou que lhe roubariam a sua carteira.
Se você olhar mais de perto para estas frases, você percebe, que a função dos tempos muda radicalmente. O imperfeito não é mais usado para descrever uma ação básica, para descrever uma ação que foi repetida, ou para descrever uma ação cujo início e fim é desconhecido ou irrelevante. A única função que tem, neste contexto, é descrever a simultaneidade. Normalmente não é possível dizer
Eles roubavam-lhe a carteira
ou melhor dito, pode-se dizer, mas significa algo estranho, significa que se roubava continuamente a carteira dele ou algo assim. Mas pode-se dizer
Ele pensou que roubavam a sua carteira
porque o imperfeito perde completamente a sua função original na concordância dos tempos / discurso indireto. O mesmo se aplica ao condicional, que neste contexto não descreve um fato como irreal, mas como algo que acontecerá no futuro, visto de um ponto do passado.
Esta lógica, o fato de que a ordem cronológica deve ser respeitada, também se aplica se o verbo introdutório exigir o subjuntivo. A cosa que se teme, se espera, se quere poder ter acontecido antes, pode acontecer ao mesmo tempo o poderá acontecer depois.
antes: Eu queria que ele tivesse vindo.
ao mesmo tempo: Eu queria que ele viesse.
depois: Eu queria que ele viesse.
Não há diferença, no que diz respeito a este problema, o fato de que a ordem cronológica dos acontecimentos tem que ser respeitada, entre a concordância dos tempos e o discurso indireto.
antes: Ele disse que lhe tinham enganado.
ao mesmo tempo: Ele disse que o enganavam.
depois: Ele disse que o enganariam.
Em muitas gramáticas trata-se a concordância dos tempos e a fala indireta em dois capítulos diferentes, como se fossem dois fenômenos diferentes, o que de fato não são, e tratá-los como dois fenômenos diferentes complica a compreensão.
Não existem diferenças fundamentais em termos do discurso indirecto / concordância dos tempos entre o português e o francês. As diferenças entre o francês e o português respeito a isso devem-se ao facto de que o passé simple e imparfait subjonctif caíram em desuso, o que produziu um par de mudanças no sistema francês. Vamos falar sobre tudo isto nos capítulos seguintes.
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